quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O nascimento da Ciência da Informação

Quem quiser conhecer melhor esta ciência, tem que recuar algumas décadas no tempo, para poder discernir os primeiros passos. Antes dos finais do século XIX, altura em que surge o termo «information science»[1], não há referências específicas a esta designação. A ciência da informação tem ligações ou raízes a outras disciplinas que, desde há muitos séculos, se começaram a afirmar como tal. Assim sendo, com o advento da Imprensa, o aumento gradual do fluxo de informação, o humanismo, o aumento exponencial da burocracia na administração pública, a centralização dos arquivos e a abertura das primeiras bibliotecas públicas, deu azo a algumas práticas empíricas na organização das bibliotecas, contribuindo para isso o surgimento dos princípios da bibliografia científica, no século XVI, cujo percursor foi Konrad Gesner.
Em 1891, o belga Otlet e outros publicaram o «Sommaire périodique dês revues de droit»[2], após a qual, ele próprio expõe a sua preocupação pela qualidade ao invés da quantidade das publicações que eram referenciadas nos catálogos bibliográficos. Em 1892, Paul Otlet e Henri La Fontaine unem esforços no sentido de criar o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), cujo objectivo principal era o de reunir toda a informação registada. O que estava em causa não era o suporte, mas sim a informação, daí que se possa falar na emergência de uma nova área a romper com as vigentes, que veio a designar-se por "Documentação". Esta tornou-se uma noção com características intrínsecas, convergindo o seu «âmbito à organização e tratamento de registos informativos em diversos suportes, necessários, sobretudo, à investigação científica e técnica»[3]. O crescente interesse por esta nova área, levou à criação doAmerican Documentation Institute (ADI), cuja missão era a de tornar acessível a informação de índole científica. Na opinião de López Yepes, a Documentação é uma «"ciência do documento", ciência geral, auxiliar de todas as demais e que lhes impõe as suas normas desde o momento em que eles transmitem seus resultados sob a forma de documentos»[4]. A partir da 2ª Guerra Mundial, com o grande desenvolvimento tecnológico, a explosão da informação – nomeadamente o "boom" da informação científico-técnica vai dar origem a novos centros de documentação.
Em 1958, após a International Conference on Scientific Information que decorreu em Washington, dá-se início a uma nova era, pois é a partir desta data que alguns autores se referem a esta conferência como o acontecimento que marca a metamorfose da documentação em ciência da informação.
Em 1962, a surge esta expressão no título de uma reunião internacional denominada de Second International Congress on Information System Sciences, realizado em Hot Springs (Virgínia). A meados da década de 60, a expressão estava definitivamente implantada nos E.U.A., acabando por ser o país onde esta área se desenvolveu mais rápido. Devido ao seu estudo aprofundado, tornou-se constante o surgimento de propostas de definição, além de uma tentativa de fundamentação teórica desta área disciplinar.
Em 1966, surge a revista Annual Review of Information Science and Technology e, dois anos depois o ADI muda o seu nome para American Society for Information Science(ASIS). Do ponto de vista profissional também se reconhecem os antigos documentalistas como profissionais da information science.
Cada vez, são mais as definições que tentam aperfeiçoar e descrever a essência desta nova área. Nas conferências doGeórgia Institute of Technology, realizadas em Outubro de 1961 e Abril de 1962, vai sair uma definição que ainda hoje se mantém consensual. Assim sendo:
«Ciência da Informação é a que investiga as propriedades e comportamento da informação, as forças que regem o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para um máximo de acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, disseminação, colecta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação. O campo deriva ou relaciona-se com a matemática, a lógica, a linguística, a psicologia, a tecnologia computacional, as operações de pesquisa, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a gestão e alguns outros campos»
[5].
Em 1968, Harold Borko, num artigo intitulado de Information Science – What is it?, reformula a definição que saíra das conferências de 1961-62, com a qual se identifica, mas indo mais além, descrevendo que a biblioteconomia e a documentação são componentes aplicadas da ciência da informação. A partir desta data ainda surgem variadas definições de diferentes autores para a ciência da informação, no entanto o debate vai começar a centrar-se sobretudo em torno do "objecto" da ciência da informação (o que é que esta ciência estuda? – Informação!) e a delimitação do seu campo científico. Esta questão do "objecto vs. informação", tem sido problemática, multíplice e com diferentes sentidos.
Pois há alguns autores defendem com muito acérrimo a ciência da "Documentação" na luta pelo campo científico, nomeadamente através da "escola espanhola" que defende esta ideia, difundindo-a pela América Latina. Os profissionais da documentação/informação, onde em Espanha é designada por Ciência da Documentação, tentam implementar esta frágil disciplina, onde as suas maiores dificuldades surgem de «su carácter de metadisciplina o de interdisciplina, pues presta su apoyo a otras ciencias además de transcenderlas para desarrollarse como ciencia propria, além de que esta pretensa ciência no tiene un objeto en exclusividad; da igual que pensemos en el documento o en la información: nuestra ciência se ocupa de algunos de sus aspectos, no de todos»
[6] segundo a autora Blanca Rodríguez Bravo[7]. Nos E.U.A. existem facções ou grupos de profissionais que defendem que a ciência da informação está englobada na ciência da comunicação. No entanto esta mudança prende-se com a seguinte diferença – uma coisa é usar a informação, outra coisa é estudar a informação.

Terminando, deixo apenas uma pequena citação para reflectir: «o objecto de estudo da Ciência da Informação – a Informação – flutua entre sombra e luz, na complexidade não somente do seu processo de criação, mas na sua passagem para o conhecimento e, sobretudo, num processo histórico mais amplo e não menos complexo, de profundas e radicais transformações da sociedade da informação ou da tecnocultura.»[8]





[1] SILVA, Armando Malheiro da [et. al.] – Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação. Porto: Edições Afrontamento, cop. 1998. (Biblioteca das Ciências do Homem. Plural; 2). ISBN: 972-36-0483-3. p. 27.[2] ROBREDO, Jaime – Da ciência da informação revisitada: aos sistemas humanos de informação. Brasília: Thesaurus; SSRR Informações, 2003. p. 40[3] SILVA, Armando Malheiro da [et. al.] – Arquivística: teoria e prática... Ob. Cit. p. 28.[4] LÓPEZ YEPES, José – La Documentación como disciplina: teoria e historia. 2ª ed. actualizada y ampliada. Pamplona: Ediciones Universidade de Navarra, 1995. ISBN: 84-313-1328-5. p. 80.[5] RIBEIRO, Fernanda e SILVA, Armando Malheiro da - Das "ciências" documentais à ciência da informação : ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto: Edições Afron-tamento, 2002. ISBN: 972-36-0622-4. p. 53.[6] SILVA, Armando Malheiro da – Documentação e Informação: as questões ontológica e epistemológica. [s.l.: s.n., s.d.] p. 3-4.[7] Sobre este aspecto, ver: RODRÍGUEZ BRAVO, Blanca – El documento: entre la tradición y la renovación. Gijón: Ediciones Trea, S.L., 2002.
[8] Ciência da Informação, Ciências Sociais e Interdisciplinaridade. Org. de Lena Vania Ribeiro Pinheiro; pref. de Gilda Maria Braga. Brasília; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1999. p. 178.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Análise de sotfwares usados para automação de unidades de informação

Alguns requisitos que devem ser avaliados:
  • Funcionalidade: analisa a capacidade do software de fornecer funções as quais satisfazem as necessidades quando usado para automação de bibliotecas. Neste requisito foram avaliados aspectos referentes a:
    • Adequação (realiza aquilo a que se propõe)
    • Tecnologia - Atende às funções básicas de um biblioteca/centro de documentação?
    • Seleção, aquisição e catalogação
    • Circulação
    • Recuperação da informação
    • Processo gerencial
    • Acurácia
    • Interoperabilidade (permite interação com outros sistemas)
    • Conformidade (está de acordo com normas, leis, etc.)
    • Segurança de acesso (evita acesso não autorizado a programas e dados?)
  • Confiabilidade: avalia a capacidade de um software de manter seu nível de perfomance. Os aspectos avaliados foram:
    • Maturidade
    • Tolerância a falhas
    • Recuperabilidade
  • Usabilidade: demonstra a capacidade que um software possui em relação ao entendimento, aprendizagem e satisfação do usuário sob determinadas condições. Avalia aspectos referentes a facilidade de uso:
    • Inteligibilidade
    • Apreensabilidade
    • Operacionalidade
  • Eficiência: avalia a capacidade do software de proporcionar o nível de desempenho exigido, referente a quantidade de recursos usados sob determinadas condições:
    • Tempo
  • Manutenibilidade: avalia a capacidade que o software possui de ser modificado. Modificações estas que incluem correções, aperfeiçoamentos ou adaptações do software devido a mudanças de ambiente em solicitações e especificações funcionais:
    • Analisabilidade
    • Modificabilidade
    • Estabilidade
  • Portabilidade - avalia a capacidade do software de ser transferido de um ambiente para outro:
    • Adaptabilidade
    • Instalação
    • Conformidade
PADRÕES BIBLIOGRÁFICOS E NORMAS INTERNACIONAIS
A adoção de padrões e protocolos internacionais específicos à área, observando as facilidades de compartilhamento de dados e o intercâmbio de informações, são características consideradas indispensáveis aos softwares com vistas à automação das bibliotecas universitárias e a sua integração a BDD(1). Foram observados:
Formato MARC (Machine Readable Cataloguing) - Conjunto de padrões para identificar, armazenar e comunicar informações bibliográficas em formato legível por máquina. Devido a uma estrutura de registro complexa, o formato MARC possui flexibilidade de uso de diversos tipos de materiais tornando-os compatíveis entre sistemas automatizados. O formato foi designado para descrever cinco tipos de dados: Bibliográfico, Coleções, Autoridade, Classificação e Informação à Comunidade.
ISO 2709 - A norma ISO 2709 - Documentation Format for Bibliographic Interchange on Magnetic Tape foi desenvolvida pelo Comitê Técnico ISO/TC 46, Informação e Documentação, Subcomitê SC 4, Aplicativos de computador na informação e documentação, da International Organization for Standardization (ISO). Esta norma especifica os requisitos para o formato de intercâmbio de registros bibliográficos que descrevem todas as formas de documentos sujeitos à descrição bibliográfica. Não define a extensão do conteúdo de documentos individuais e nem designa significado algum para os parágrafos, indicadores ou identificadores, sendo essas especificações as funções dos formatos de implementação. A ISO se preocupa em apresentar uma estrutura generalizada, ou seja, um arcabouço projetado especialmente para a comunicação entre sistemas de processamento de dados, e não para uso como formato de processamento dentro dos sistemas(2).
Protocolo OAI-PMH - Open Archives Iniciative Protocol for Metadata Harvesting. Protocolo modelo de interoperabilidade baseado no processo de coleta automática de metadados (metadata harvesting). Este protocolo opera sobre o protocolo http.
Protocolo Z39.50 - Proposto inicialmente, em 1984, para ser utilizado com informações bibliográficas pela National Information Standard Organization (Niso) e aprovado em 1995, é utilizado para a recuperação de informação bibliográfica de computador para computador, possibilitando ao usuário de um sistema pesquisar e recuperar informações de outro sistema, ambos implementados neste padrão. Especifica formatos e procedimentos administrando a troca de mensagens entre um cliente e um servidor, habilitando o cliente a solicitar que o servidor consulte um banco de dados, identifique registros e recupere um ou todos os dados identificados. Destina-se à comunicação entre aplicações para recuperação de informações, e não promove a interação entre o cliente e o usuário.
UNICODE - É um sistema de codificação que estabelece um único número para cada caracter, não importa a plataforma, não importa o programa, não importa a língua.
XML (eXtensible Markup Language) - Linguagem de descrição documental para utilização na Internet. O XML é um subconjunto da linguagem SGML, especificamente para ser usado na Web, com uma estrutura e validação de dados mais sofisticada do que o HTML.
 
 
Este artigo e da autoria do Dr. Horacio Zimba

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Licenciatura em Ciência da Informação na Universidade Eduardo Mondlane já e uma realidade

Licenciatura em Ciência da Informação na Universidade Eduardo Mondlane já e uma realidade

 A Sociedade da informação define-se como a etapa do desenvolvimento da sociedade que e caracteriza pela abundância de informação organizada. O espaço de produção desta sociedade e principalmente o conjunto de meios que e, antes de tudo, um conjunto de informações cientificas, tecnológicas, comerciais, financeiras difundidas de forma interactiva e rápida.
 A informação e conhecimento, são hoje elementos centrais e fulcrais e norteadores de importantes transformações económicas, politicas e sociais que vêm surgindo desde séculos. Nesta medida , o profissional da informação, entre os quais encontram-se o Bibliotecário e o Arquivista, e hoje aquele que faz a manipulação, tratamento, articulação tecnológica da informação. Diante de um grande défice dos profissionais da informação em Moçambique, foi criado em 2009 o curso superior em ciência da informação em Moçambique a ser ministrado na maior e mais antiga universidade do pais, UEM.

O Curso tem como objectivo:

  • Formar profissionais para a gestão e organização da informação em qualquer contexto organizacional;
  • Estimular e dinamizar a investigação na área da Ciência da Informação;
  • Capacitar o estudante a seleccionar, adquirir, disseminar e transferir a informação com eficácia.
Perfil do profissional

Com o curso, procura-se formar profissionais aptos a:
  • A fazer a analise orgânico e funcional da organização
  • Administra os fluxos de informação, com o intuito de disseminar informações relevantes para a tomada de decisões;
  • Desenvolver actividades como empreendedor na área de documentação e informação;
  • Acompanhar os avanços científicos e tecnológicos, participando em projectos de investigação;
  • Gerir os serviços e recursos em redes de sistemas de informação de qualquer tipologia dentre outras actividades.
Saídas profissionais do Licenciado em Ciência da Informação
O Licenciado em Ciência da Informação, designado genericamente por Profissional da informação ou Gestor da informação, esta habilitado a exercer profissionalmente funções de:
  • Administrador de Dados;
  • Analista de informação;
  • Arquivista;
  • Bibliotecário;
  • Consultor em informação;
  • ''Cientista da informação''
  • Documentalista;
  • Gestor de informação ou gestor de conteúdos, nomeadamente na Net;
  • Gestor de Recursos de informação;
  • Gestor de sistemas de informação e pode receber a designação,
  • Técnico superior de serviços de documentação e informação.
Podem concorrer a este curso na Universidade Eduardo Mondlane todo o individuo que reúne as condições exigidas para o ingresso no ensino superior bastando para isso inscrever-se para os exames de admissão nas disciplinas de Português e Historia ou Português e Matemática.